terça-feira, 23 de dezembro de 2014

CAMINHOS DO SONHO

A noite está escura e a chama do amor queimando em meu peito. Fujo de minha casa enquanto todos dormem. Há uma escada secreta, e oculta pela escuridão corro. Um véu esconde meus olhos, enquanto tudo em volta dorme quieto como a morte.
A noite é quem me guia, para fazer-me mais amada do que a lua. É ela que me une a meu amante, aquele que ama transformando tudo em flores e beleza. O fogo me domina, a noite é mística, percebo a magia... Vivo esse segredo, um sentimento além da visão mortal. O que indica o caminho são os olhos do meu amado, uma luz que queima tão profundamente em meu coração, um amor que se mostra tão brilhante quanto o diamante e me leva onde ele espera. Um lugar onde ninguém mais pode chegar.
Nesse pequeno canto do mundo, meu amor pode ser dele. Uma colina coberta por flores é o nosso leito. Aqui onde o vento balança meu cabelo, e suas mãos lisas acariciam-me e torna cada sensação única... Perco-me nele, para ele. Coloco minha face em seu peito e meu sorriso é como a névoa da manhã que se tornou luz entre os lírios brancos. Quanta claridade há no amor!
Porém, ouço ao longe as ondas trovejantes da realidade que estão me chamando para casa. O mar truculento está me chamando para a casa do cotidiano... É preciso voltar!
O dia chega e queima os olhos com sua luz ofuscante, e por dentro a escuridão se aproxima, respiro o ar amargo me sufocando com sua astúcia sutil. Quanta escuridão há na indiferença!
Como uma imagem fatal, vejo a tempestade pintando um cenário de raízes arrancadas, galhos quebrados e folhas escurecidas e podres. Toda a beleza cheia de encantos volta para a nudez e fica uma janela como um vidro que reflete os demônios da solidão, um cansaço exterior como se Deus dormisse por um tempo, e através dos galhos quebrados, fica os corvos do pensamento desolado; incansável, voando para lá e para cá com sua garra cruel e sua garganta com fome, cheirando o vento, agitando suas asas esfarrapadas...
Não quero olhar para esse espaço amargo, quero lembrar o olhar amado. Quero olhar em meu próprio coração e sentir a árvore sagrada do amor crescendo lá. Os ramos da alegria começando a expandir e todas as flores trêmulas com a brisa suave que carrega seu perfume, o carinho contido no seu riso... Quero novamente fugir e correr através do sonho, e sentir na boca o gosto de morangos e cerejas, o gosto do beijo de um anjo na primavera... Pois meu sonho, assim como um vinho, é feito de uvas e há em mim essa embriaguez de devaneios...





quarta-feira, 7 de maio de 2014

Enquanto respiro!


Reli recentemente o livro Memórias Póstumas de Brás Cuba de Machado de Assis, que narra sobre um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Então me pus a pensar; como será o mundo sem mim? Provavelmente o mundo será o que sempre foi. Só que eu não estarei mais lá! Muito estranho... Penso no moço do correio entregando a correspondência, e eu não estarei lá para recebê-la. Ou no lixo que não colocarei para o coletor levar... Parece impossível, mas não é! E pior, algum tempo depois de estar morta, vou ser verdadeiramente descoberta. E todos aqueles que tinham receio de mim ou me desprezavam vão subitamente me aceitar. Minhas palavras vão ser descobertas, minhas coisas remexidas. Muitos vão falar de quem eu fui. Até mesmo os que nunca souberam vão falar. Será nojento! Será feito um filme sobre a minha vida. Talvez até me façam muito mais corajosa e talentosa do que sou. Muito mais... Será suficiente para fazer os deuses vomitarem!  A raça humana exagera em tudo. Exageram em seus heróis, seus inimigos, sua importância! Exageram quando já não há mais vida. Então digo; Lembre-se de mim enquanto respiro. Depois que eu morrer só haverá datas, a que eu nasci e a que parti, porque todo o resto, toda a história é minha, todos os dias são meus. Todo o amanhã, arrasta-se do dia para a noite, da noite para o dia, até o último suspiro do registro dos tempos. E todos os meus ontens iluminam o caminho que leva ao pó da morte. Não deixe para lembrar-se de mim depois do último fôlego!  Apaga-me, depois da chama breve. A vida é como uma sombra ambulante que agita no palco, se contada depois que não há mais respiração; é uma história contada por idiotas, cheia de exageros e muito barulho, que nada significa. Entretanto, enquanto vivo há um motivo... Então fique perto para saber do meu caráter, do meu desenvolver, do meu conhecimento. Antes da morte me alcançar busco dar paz e satisfação intelectual à minha vida e às vidas daqueles com quem me importo, porque perseguir estes objetivos enriquece-me. Partir do fato de que a morte é inevitável não implica dizer que tudo o que faço não faz diferença, porque faz toda diferença... Enquanto eu respiro!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Na casa que habita a consciência não mora fantasma.


"Acho que devemos fazer coisa proibida – senão sufocamos. Mas sem sentimento de culpa e sim como aviso de que somos livres.” (Clarice Lispector).

Existem momentos em que quero ir ao limite das minhas fantasias, e de repente ouço uma voz que diz que isto é proibido, que estou louca, apenas me deixando levar... Iminente está o limite. Somos limitados, e arriscar possibilita erros e estes podem trazer culpa!

Mas, racionalizar tudo e sufocar o impulso não é uma maneira de permitir a entrada de fantasmas em nossa “casa”? Sim, quando menos se espera lá vem ele, o fantasma da culpa, se aloja ali, e mesmo que o tempo passa, ficamos relembrando nossos erros passados, nos punindo, gerando tristeza, depressão e desequilíbrio emocional.

A culpa pode ultrapassar os limites e se tornar exagerada, e então é devastadora. Mantém-nos amarrado ao passado, corrói a qualidade de vida do presente, e nos impede de fazer planos e se lançar no futuro. A culpa nos traz raiva e frustração.

Alguém me disse ainda a pouco que a vida é cíclica, e acredito nisso. É que o mundo gira suspenso em seu eixo e sempre volta em harmonia. Então por que permitimos a entrada desses “fantasmas culpa” em nossas vidas?

Temos que compreender e aceitar que todos nós somos seres imperfeitos, e fazemos coisas erradas durante nossa vida. Precisamos ter consciência de que todos nós somos limitados, mas usar os limites como travas e cercas é aprisionar-se! Devemos apenas saber que tudo tem um preço, toda decisão faz parte de um processo de escolhas, e no momento seguinte é sempre uma surpresa, não tem como saber, mesmo porque buscar certezas é alavancar limites cada vez maiores e sufocantes.

Constantemente criamos uma fantasia de controle sobre o caos que é a vida, mas várias situações fogem desse controle, é impossível ter o domínio de tudo.

Então, como ter paz se não conseguirmos destruir esse fantasma?

Chego a pensar que a culpa foi uma descoberta inteligente do ser humano para dominar o outro ser humano. Quando estamos em culpa, estamos vulneráveis, debilitado e predisposto a ser conduzido por qualquer um que tenha a possibilidade de nos redimir e manipular.

Por isso, se queremos nos libertar desse fantasma, a primeira atitude é não fugir dele, mas enfrenta-lo, buscá-lo e descobrir quando foi implantada a “culpa” dentro de nós. Pois, quando compreendermos que não há culpa e arrependimento, mas sim, compreensão e aprendizado, seremos livres.

Se você se deitar comigo...

É só mais uma noite e eu estou encarando a lua, vejo uma estrela cadente e penso em você. Há uma ligação entre as belezas do mundo e voc...