sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Contraste...

Vivo em um contraste; sinto que tenho dentro de mim o oceano e o deserto, um lugar povoado e outro ermo. Há em mim fartura e carência, medo e desafio. Tenho a eloquência e a absurda mudez, a surpresa e a antiguidade, o requinte e a rudeza. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e lentidão. Música alta e silêncio… Vivo entre o mundano e o sagrado, o puro e o obsceno. A carne que pede pecado, o espírito que pede renuncia. A paixão que alastra, queima e suja. A lucidez que amarga, tortura e trás culpa. Essa dualidade enlouquece, me aproxima e distancia. Faz-me viva num instante e em outro estou morta. A alegria do momento, a vergonha do depois. O calor do ritmo, do contato, do corpo. O frio da realidade, da insensibilidade, o gelo da mente. Não quero que as coisas permaneçam como estão. Sinto-me afastando das pessoas e de mim mesmo cada dia mais. Mas, ao mesmo tempo, não quero continuar perto das mesmas pessoas e muito menos de mim mesma. Essa terrível sensação de que as semanas têm durado infinitamente mais do que deveriam e de que os momentos que deveriam ser eternizados como únicos se tornaram banais e repetitivos. Deus, como sinto falta de um propósito. De planos. De anseios.
Lembro quando eu era mais nova, deitada na minha cama madrugadas inteira, ouvindo minhas músicas e sonhando com objetivos e designando a mim mesma tarefas que fariam eu me aproximar de quem eu queria e deveria ser. Acredito que quem sou hoje não é o resultado que eu tanto esperei alcançar.
Não quero me lamentar, só precisei escrever pra quem sabe, de algum forma, entender o que estou sentindo. Organizar meus pensamentos até criarem forma e me dizerem onde preciso chegar.
Viver dubiamente é ter constantes incertezas. Tão mais fácil seguir uma receita do que me arriscar e falhar por conta própria. Tão mais fácil culpar terceiros inocentes a primários verdadeiramente envolvidos. E, de uma forma ou de outra sou sempre primário, sou sempre terceiros. Sou um espectador assistindo a um filme do qual fez figuração.
Queria viver de amor, vinho, música e poesia. Mas, o amor acaba o vinho embriaga, a música termina e a poesia se vende. Na verdade, acredito que esses quatro elementos são ramos diferentes da mesma árvore. Dessa árvore eu sou a raiz. Aquela que cava em direção às águas até chegar ao ponto mais profundo, estável, porém intocável e invisível. Ou eu me mostro e mato a árvore ou permaneço onde estou até que a árvore seja arrancada pela mesma mão que a cultivou. Eu sei que é preciso manter a árvore viva, e que meus frutos (o amor, o vinho, a música e a poesia) possam ser extraídos um a um, de acordo com a estação do ano a que pertencem. Mas, o que fazer se sempre me encontro no outono, onde não tenho muitos frutos para serem extraídos, e o que me resta é cavar rumo às águas o mais profundo que eu puder...
Minha dualidade rouba-me a liberdade, pois como diz uma de minhas escritoras preferidas, Clarice Lispector, “Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade, mas estou presa dentro de mim.”!!!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quem sabe de quem?

Já ouvi que pareço louca, que pareço pura, que pareço moça, mas a verdade é que nunca ninguém me soube!
Vivo desaprendendo para aprender. Reiniciando, “deletando” para escrever em cima. Pensava que isso só era possível pelo processo de reencarnação, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida.  Basta perder o receio de mudar.
É assustador olhar para dentro e encarar-me de frente, defrontar com meus fantasmas, mas não posso sublimar um mostro que me deforma e que desfigura minha realidade. Por mais que me perca, analiso que pior do que se sentir perdida é perder-se em si mesmo.
Disseram-me que assusto e que distancio pessoas, mas veja; quantos não são capazes de perceberem que estão envoltos no emaranhado do que acreditam misturado ao que de fato é. O que acreditam, apostando corrida com o que mais detestam.  Mentem, e suas mentiras ferem, mas não veem que mentem a si mesmos. Escondem-se nas muitas desculpas para não se conscientizarem da verdade. Enganam-se constantemente, fazendo de conta que são capazes de se identificarem com a fonte suprema da verdadeira vida. Insistem em ver somente através dos olhos e ouvir apenas com os ouvidos, e com isso, menosprezam toda a essência de quem cruza seus caminhos. Vivem limitados pelo corpo. O que têm, está “jogando palitinhos” com o que querem. Porém, me questiono; quando a cabeça pensa demais será que nossa alma enriquece? 
Vivo cheia de indagações e de táticas que não fazem o menor sentido. (pelo menos em determinados momentos). Minhas certezas mudam, minhas prioridades deixam de serem prioridades já que nem sei mais o que desejo. Até sei, mas está tão longe e eu tão cansada que o mais fácil é deixar que as prioridades me encontrem. Meus olhos pesam e meu coração já bate fraco. De tanto que bateu a vida inteira. De tanto chorar amor e fracassos. De tanto chorar pelo leite derramado, já não sei... Me entender é complicado demais!
Sem contar que certas coisas não se explicam. Não existem palavras que as descrevam ou soluções que as resolvam.  Sentimentos, gestos, sonhos e sorrisos. A alma entende e a boca cala. Dor, susto, drama e tragédia, a gente nasce sabendo. Saber ser feliz exige décadas para entender e, ao mesmo tempo, pede tão pouco. Muitas vezes, se vive somente para relatar o quanto nossa vida é impressionante, mas lá no fundo persiste uma mágoa desconfiada de não vivermos o que realmente desejamos. E o que desejamos não se diz, arde!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Fora das profundezas!

Saí das profundezas para aprender a amar, para aprender a viver. Não saí das profundezas para evitar os erros que fiz. É por isso que estou aqui! Saí para ajudar e para compreender, não para matar-me por dentro. Levarei muitas vidas até ter sucesso, até limpar os débitos de muitas centenas de anos. É por isso que estou aqui!
Só não me diga que não posso errar, enquanto você anda lá fora, levando suas montanhas de poeira... Deixe-me ser o vento forte que sopra no branco e solitário oceano, que é meu mundo. Ando perdida no meu deserto, às vezes, mas não me condene você que anda fora do seu! Posso até ficar só, aqui, neste anel de fogo, mas não esqueço os dias que se foram. Protejo meu corpo e cuido de minha alma. Fujo das suas visões... Prefiro estar perdida no meu deserto, porém sentir esperanças, e não ser como poeira na estrada. Busco ser, um dia, como a lua que ilumina o caminho de alguém. Não quero ser o sol que pode cegar os olhos!
Rezo aos céus para não ser a neve que cai nos corações humanos. Mas, ainda preciso livrar-me das minhas duvidas, e só então, amparar você que hoje me condena! Rezarei aos céus para que um manto cubra meus ombros, toda vez que sentir o sopro de suas críticas, de suas cruéis acusações. Que um véu de seda e ouro deixe claro, quando as sombras chegarem e escurecerem meu coração. Sei que meu instinto é selvagem, e a vida social um paradoxo, ambos estão lado a lado. Por isso, busco minha essência! Não tente me submeter às suas regras estúpidas! Deixe-me ser eu mesma e não uma tola! Não aceito hábitos regulares... Abro meu coração e empurro os limites... Deixe-me!!! Só eu mesma posso permitir-me equivocar!

domingo, 15 de julho de 2012

Medo de amar

Quando o vi meu desejo era desviar-me do fogo que existe na pele. Queria tornar-me fria como o gelo. Acalmar a fome voraz que me consome em segredo. Pois tenho medo de mim, de ti, de tudo. Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes... Atormentam-me esses cruéis receios. É que o vento soprando, torna incêndio a chama viva que teu toque ateia! E a plantinha humilde do meu ser torrará na labareda que se enrosca em meu corpo, quando o calor das tuas mãos, amarrotando o meu vestido, despertar-me a volúpia doce. Queimar-me-ei ao pisar descalça como uma criança louca, sobre um chão de brasas! E na manhã, com o dia começando, você deixa minha casa. Meu coração estará quebrando. A minha juventude passou faz tempo. E nas noites seguintes estarei sozinha. Os céus escuros profundamente intermináveis.  Ao final estou triste, pesarosa e abatida. Sinto que não há mais ninguém do meu jeito. Mas, é esse meu destino. O medo sempre vem atrapalhar o amor, me impedindo de voar por cima dos gelos e das pedras aguçadas. Por fugir desse fogo, sinto a tempestade se aproximando. Pergunto então a meu Anjo guardião; você estará por perto se a chuva cair? Devo acreditar que você surgirá para serenar a tempestade? Só queria a sua promessa! Sinto que é cedo demais para desistir de sonhar. Ainda desejo que a lua se ponha e mude o meu amanhã. Você sussurra em minha consciência que tudo pode acontecer, que minha fé moveria a Terra e o Mar. Meu querido Anjo ajude-me! Eu posso sentir todas aquelas nuvens escura desaparecendo quando sinto tua presença, então se faz presente nesse momento, deixa esse amor acontecer, alegre minha alma...

domingo, 27 de maio de 2012

A voz de um Anjo

Lá fora nas tempestuosas chuvas ouvi uma voz... O timbre era ardente, e meu ouvido ávido demais. Senti-me possuída pelo som, e os sonhos ruins não vieram àquela noite! A voz dizia que eu não perderia a luta... Aqueceu meu coração que sentia tanto frio, deixei-me levar...
Este quarto é escuro e solitário. Mas, deste outro lado percebo que o destino te trás para mim, meu único mestre. Há muito tempo que saio de mim e vagueio pela noite. Queria voltar para o seu lado para consertar tantas coisas...
De alguma maneira sei que as coisas mudarão. Agora que aprendi a ouvir sua voz no silêncio de minha alma, encontrarei um sentido para vida. Seus sussurros de bálsamo dos anjos trazem o sol de volta. Mergulho dentro do meu eu. Busco a sua voz amorosa e nesta viagem encontro o amor.  Meu anjo que é essência, que me faz ser sublime, melhor com verdades e transparência.
Mas, acontece que neste passeio também me deparo com aquilo que aprisiono; um belo anjo negro que se esconde no humano... Este não quer me libertar, é sombrio e destruidor e assim... Só mata a mim! Tenho medo que este me rouba a imortalidade, que sua queda na humanidade, condene-me a um fim.
Oh anjo bom, que a magia do seu som, afaste de mim a escuridão... Trás a paz, suplico à sua suavidade em minha memória. Deixe-me navegar no mar do tempo sem rumo, levada por ondas dos seus sons, repousa em mim o seu encanto. Pois o que vale, oh anjo bom, é o presente, é nossos instantes. E seus sussurros são marcantes, porque são fonte de vida, potência se atualizando, que gera em mim a energia essencial, permanente e incessante...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A luz da manhã

Acordei para ver você em pé na luz da manhã. Queria tocá-lo... Mas, tudo o que vejo é uma memória, e ainda assim, sinto que você está perto. Minha visão não é clara, no entanto, tenho a sua imagem sempre em vista. Estou sempre pensando em você e sinto-o me observando tranquilamente... E quando fecho os olhos encontro alguma paz de espírito em saber que você está me cuidando. Conforto-me que você não tenha mais que continuar vivendo em um mundo cheio de dor. E sofro todas as vezes que tento vê-lo novamente em alguém.
Em dias de chuva ​​sento a pensar em meus anos perdidos. O tempo em que passamos separados apenas enchem meus olhos de lágrimas. Porém, os campos de flores selvagens e as borboletas amarelas lembra-me você e me faz sorrir, porque você anda em minha sala e fica lá na luz da manhã.
Guardo as lembranças em meu intimo, e posso sentir o seu perfume no ar que respiro. Toda essa realidade a minha volta faz sua perda difícil de suportar. Procuro ver você em todos os lugares. E agora vivo na escuta de um mundo paralelo à luz da manhã...
Distante ouço uma voz familiar em meio ao som das minhas lágrimas que diz; “estou bem, você vê? Serei sempre seu!”.
Não sei seu nome, vejo-o como linhas sem traços. Desejo-o para acalmar a chuva do meu desespero. Meu coração amoroso, sem essa presença misteriosa fica perdido no escuro. Sinto que minha flor murcha entre as páginas do meu livro chamado Vida.
Trilho meu caminho presa num passado de outra vida. Durmo com o anjo que não revela seu verdadeiro nome. Oh como eu o desejo!! Daria meu tudo para vê-lo velejando para casa... Esse amor é tão cheio de fogo, é como uma ponte que me leva a um lugar seguro... Esperá-lo é minha arte do compromisso, com certeza, esse amor foi a nossa maior força por anos, séculos... E por isso espero-o todos os dias a luz da manhã!!

terça-feira, 27 de março de 2012

AS VOZES...


Assim que saí em uma manhã, no mês de setembro, a primavera cobrindo os jardins de flores, descuidadamente fiz-me perdida em devaneios. Ouvi uma jovem, em sua tristeza reclamar o seu amante ausente. A fúria do desengano cintilava em seu olhar. Corajosamente me aproximei dela, uma criatura encantadora, e indaguei; o que faz aqui? A jovem, respondeu;
 - Procuro um homem infiel que viaja as margens de seu egoísmo, um homem falso que invadiu meu caminho e fez meu oceano, que antes era cristalino e calmo, se tornar selvagem. Ele está cruzando esse oceano agora, sinto-o entrando e se espalhando em minhas veias, entranhas e ir até a alma. Deleita-se em meu peito destruído. E nenhum homem na terra conseguirá de suas mãos, tirar o meu coração. Estou condenada a vagar pelos bosques e vales solitária. A estrela dos meus sonhos vi caindo nas profundezas da escuridão!
Sua doce voz era como orações suaves, como pétalas ao amanhecer, e enquanto ouvia, parecia tão claro, que tão calmamente estava me chamando para algum lugar, e a quietude era tal como as dunas no deserto. Jamais senti antes, uma voz que parecia me puxar, puxar, puxar... De repente uma outra voz se sobrepôs, e questionou; meu coração, minha alma, encontrará a paz lá? Silêncio...
Num lampejo despertei-me completamente. A voz que eu ouvia era traiçoeira, não podia ser uma oração, era melodiosa, mas amarga!
Voltei meus olhos agora despertos, a primavera ainda estava ali; as rosas, os perfumes, a suavidade da brisa... Firmei meu olhar, e a vi indo, indo...
Sei que em algum lugar da minha memória essa jovem estará oculta, sua imagem turva sempre flutuará diante dos meus olhos, todas as vezes que lembrar o homem que roubou-me a paz.
Mas, os dias de sol e as noites perfumadas dar-me-ão a inexplicável vontade de dançar até o nascer do sol seguinte. Eu posso ver luzes à distância, tremendo no manto escuro da noite. Posso acender as velas e lanternas, posso viver dançando, dançando a valsa dos meus eternos sonhos. Pois eles, esse homem cruel, não roubou! E o vento esta cheio de mil vozes, entre elas a do meu anjo, que diz;
- E se você se atreve a chorar, sempre estarei contigo...

Se você se deitar comigo...

É só mais uma noite e eu estou encarando a lua, vejo uma estrela cadente e penso em você. Há uma ligação entre as belezas do mundo e voc...